Trecho da apresentação:
Vimos tecendo as tramas arquetípicas que se passam nas esquinas da cidade, prédios e avenidas, nos mais variados labirintos, ruas tortuosas. Espaços e tempos que promovem encontros e desencontros, que atraem e recusam vontades e dizeres feitos de ausências e de sobejos. A sensualidade que revela muitas vezes o que não se quer desvendar tão explicitamente — loucuras, excessos, perturbações da alma.
Na Renascença, o amor platônico transforma o homem num trovador, vassalo da mulher amada. Assim, falando de amor, falamos sempre de traição e nos reportamos a triângulos. A presença do outro ou da outra, que comparecem em nossas vidas adquirindo aspectos arquetípicos diversos, amantes necessários. Essas representações existem desde sempre e habitam permanentemente nosso imaginário excitando-nos de vários modos.
Ângela Teixeira
Trecho da discussão:
Hermenegildo Anjos: Ou será porque o amor e a puta ainda não estão ligados?
Ângela Teixeira: Ah… com certeza. E todos nós somos, como você mesmo falou aqui.
Rosa Blanco: Mas fico pensando: você está trazendo o casamento sagrado, você abre com o casamento sagrado, e ao longo das cenas [dos filmes que mostrou] fala assim, “tem o amor da puta e a prostituição do amor.” Quando você prostitui o amor pelo dever, pela religião, pela grana… Quando você troca o amor por dinheiro ou pelo dever ou pela religião. Quer dizer, o amor da puta, ela quer o casamento sagrado, mas não prostituir o amor.
Raul Marques: O que penso é que a alma quer coniunctio. Essa busca de inteireza, então tenta buscar no outro.
Ângela Teixeira: É, mas acho que essas imagens tanto excitam como confortam. Para mim é assim. Funciona desse jeito. Excita, mas conforta.