Trecho da apresentação
A princípio espontaneamente e, em seguida, de forma ritual, surgiu no grupo uma vontade de aprofundar os conhecimentos relacionados a temas místicos e fenômenos metafísicos. Então, faz uns oito meses que, por ocasião das atividades do grupo, levamos lamparinas nas noites de sábado para a jardineira de Hécate, passando pela ponte da morte, com o sentimento sublime de curvamento em busca de maior compreensão das nossas teias invisíveis. São cultivadas duas jardineiras no vale da morte, a de Nanã e a de Hécate. Essa noite, em especial, é sempre um momento muito esperado e celebrado pelo grupo, de muito mistério e magia para as pessoas. Vou como uma alquimista condensando e dissolvendo imagens psíquicas. No dia seguinte, tiramos as lamparinas e as colocamos na jardineira cujo tema necessita de maior aceitação, compreensão e abertura. Durante o mês, tenho observado acontecimentos interessantes a nível do aprendizado psíquico de cada um, como o meu próprio. Numa noite, deixei na jardineira de Hécate a lamparina, porque queria entender melhor esse negócio de “bruxa”, já que Hécate é considerada a divindade da bruxaria, da magia, da sabedoria, da comunicação com o mundo dos mortos, a guardiã das encruzilhadas. Essa “brincadeira” tomou corpo. Passamos a cultivar nessa jardineira ervas para banhos e chás. Cada um também levou uma pequena imagem de bruxa para dependurar na cerca onde findam a jardineira e o loteamento. Naquele fim de semana, não me deixaram esquecer a lamparina que havia deixado lá e, no domingo, já começaram dizendo: “olha a lamparina de Hécate”. Meia hora depois, alguém volta a falar: “olha a lamparina de Hécate” e, assim, sucessivamente até voltarmos a recolher as lamparinas. Teve um mês em que esqueci (de mentira), o que foi muito rico em imagens psíquicas para um dos participantes.
Kathia Nascimento
Trecho da discussão:
Gustavo Barcellos: Mas o bonito, Kathia, é que você tirou essa metáfora da teia, tirou essa imagem da teia dessas conotações tão negativas que normalmente ela tem na psicologia profunda – enredamento, aprisionamento, a Grande Mãe. Você colocou isso como a metáfora de rede invisível que nos une para dentro e para fora. Muito bonito isso.
Lunalva Chagas: Eu fiquei o tempo todo esperando que caísse na rede e não caiu.
Hermenegildo Anjos: É que nós já estamos na rede. Não precisamos cair na rede.
Kathia Nascimento: Não tem jeito, estaremos em alguma rede sempre, não é?
Gustavo Barcellos: Sim, mas isso não é um aprisionamento, você colocou uma perspectiva onde isso não significa um aprisionamento, mas uma conexão.