As relações entre alma e corpo sempre foram enigmáticas. Há um vasto campo de reflexão e pesquisa nas psicologias em geral, na psicanálise e também na psicologia junguiana, colhendo os resultados da atenta observação do trabalho da psique no organismo somático. Falamos também de um corpo simbólico, especialmente nas terapias de orientação junguiana, e exploramos então suas significações na saúde e na doença. A subjetividade do corpo deu margem a uma clínica que vai de uma escuta analítica mais apurada e diferenciada, até as abordagens ditas corporais, com seu amplo espectro de instrumentos adentrando inclusive o espaço outrora mais exclusivamente dedicado à palavra: o setting analítico. Falamos então de uma psique do corpo, e a inscrevemos, ou melhor, percebemos sua inscrição tanto na tradição simbólica das culturas milenares quanto nos sintomas somáticos que muitas vezes acompanham a procura e a entrada de nossos pacientes em análise.
Mas, e o corpo da psique? O que dá corpo à psique, à nossa experiência de interioridade, tornando-a portanto ao mesmo tempo sensível e presente? Onde e de que forma a psique ganha corpo? Podemos falar de um corpo psíquico, ou um corpo imaginal, de um “corpo” que não se confunde, de um lado com o organismo biológico, e de outro com o corpo sutil das tradições espirituais? Que respostas pode dar a psicologia arquetípica aos desafios da metáfora do corpo em operação na psique? E, ainda, de que forma essas noções podem afetar, ampliar ou aprofundar nossas práticas psicoterapêuticas? É este o desafio desse nosso próximo Encontro: o corpo arquetípico, o arquétipo do corpo.
Gustavo Barcellos