O declínio ou o enfraquecimento da imagem arquetípica do Pai no imaginário das sociedades contemporâneas enfrenta, na psicologia, a enorme e pervasiva presença do arquétipo da Mãe em suas teorias e práticas. A ela ainda hoje pertencem as noções de cura, desenvolvimento, adaptação, inconsciente. Sucumbir a ela, como puer, ou vencê-la, como herói, são alternativas da alma em desamparo — e facetas individuais, em nossa cultura, da relação matéria/espírito.
Ao elegermos o arquétipo fraterno como tema, buscamos escapar do maternalismo e do paternalismo já por demais presentes e explorados em nosso campo. Queremos trazer à tona em nossas reflexões a diversidade das relações de horizontalidade e sua função na individuação — cujo primeiro paradigma subjetivo se constitui no irmão. Queremos abrir uma discussão, dentro do âmbito de uma psicologia arquetípica, na qual a perspectiva familiar hierárquica ou vertical da relação pais-filhos dá aos poucos lugar a uma perspectiva mais equalizada entre irmãos-irmãs. Isto significará imaginar a própria análise não mais como um esforço no sentido de completar o trabalho de pai e mãe, e mais como um trabalho que consiga constelar as transferências horizontais da fraternidade. Isso também significará sofisticar as noções da ‘semelhança na diferença’ nos laços sociais.
Gustavo Barcellos