Ensaio Sobre a Potência do Fraterno

By 14 de setembro de 2014dezembro 18th, 2014Arquétipo Fraterno

A criatividade do fraterno costuma circular pelas redondezas, avizinha-se, tece caminhos paralelos, anda lado a lado, flutua um pouco acima, desce um pouco abaixo, circula pelos detalhes cotidianos, às vezes esconde-se no insólito lusco-fusco, em algo fugidio mas persistente, utiliza-se de todo o espaço disponível da psique que experimenta a vida em sua imanência e teima em fascinarmos com um brilho possível no eixo do horizonte. Traz sua potência curativa na ressonância empática do olhar amigo, em cujo brilho reflete-se uma nova imagem de mim mesmo.
Na dinâmica do arquétipo fraterno repousam potências e não poderes. A energia de troca entre amigos tende a ser compensada ao ser compartilhada e então novas forças inconscientes são consteladas, reativando e desafiando de novo a potência de uma totalidade psíquica por novas soluções. Por isso, o espaço do amigo na vida social abre-se para o exercício da autoridade do outro, é o eros que está no outro que seduz a minha psique por um novo conhecimento. Aqui se encontra o amigo que me faz entrar em contato com aquilo que me pretende e já me pertence, ajudando-me a apropriar-me do que é meu. Aqui não cabe a dinâmica social totalitária e o individualismo egóico. O outro não é mais o competidor a ser destruído com ataques dissimulados de ciúme e inveja.
A ordem do fraterno estabelece-se na fluidez dos movimentos que buscam uma nova estética e que são imanentes na sensibilidade coletiva da vida social, especialmente na afetividade natural disponível. Nutre-se do fascínio pelo reconhecimento das semelhanças contidas nas diferenças.

Isabel Labriola