Descobre-se muito sobre uma casa quando se vasculha, mesmo que com um olhar fortuito, uma estante de livros. Quais são as ideias que circulam naquele lugar? É como se a estante informasse, muda e em mosaicos, os segredos mais íntimos. E que imagem linda! Colorida, com muitos tons de branco e marrom esverdeado, por vezes com alguns “muitos tons de cinza” porque ninguém é de ferro…
As cores vão se aglutinando a medida que as coleções vão se formando para depois se desfazer em um caos de cores. Caos contido, mantido entre as prateleiras. Mas, uma estante de livros para ser uma “Senhora” estante de livros precisa abrigar além de livros outros objetos: porta-retratos, luminárias, velas, pedras, porta incenso, potinhos, contas à pagar, cartas de amor.
Dizem por aí que as mulheres guardam suas cartas de amor junto as roupas, há quem as guarde junto aos livros. Há também quem se espante: Guardar cartas de amor no meio dos livros, em uma estante, em plena sala?
Estantes de livros são armários sem portas, expõem aquilo q abrigam. Deixam à vista, mas protegem de olhares vulgares. Aquele que achar uma carta de amor em meio a uma estante de livros é porque a merecia. Farejou seu tesouro seguindo o mapa do absurdo, foi recompensado por Fortuna. Merece pois, degustá-lo. Mesmo porque cartas de amor não foram escritas para mim ou para você, e sim para quem as descobre. Quem se aproxima e vasculha uma estante de livros é porque garimpa. Recibo de deposito bancário, fotos 3×4, lista de compras, anotações esquizóides… Livros são portadores de atos falhos!
Aqueles que defendem os livros falam de um amor, de um carinho, por vezes, até da necessidade de tê-los entre os braços. O Amor que o livro desperta vai além do texto impresso, além das texturas das folhas de papel. Talvez por que ofereçam entre as suas páginas espaço para segredos, algo que páginas virtuais jamais oferecerão. Aquilo que resiste e insiste, quase numa afronta, no habito de carregar livros encarnados não admite perder seu esconderijo que de tão secreto pode até ficar à vista. Ninguém se preocupa tanto em esconder um livro. Não nos damos conta dos segredos que ele encerra.
Existe um ditado árabe que diz que os livros são jardins que se pode levar no bolso. Para além de jardins e quintais, também são gavetas.
Juliana Nascimento