Trecho da discussão:
Elias Korn: Volta e meia aparece no consultório sonhos sobre o Carnaval. Aparece essa imagem do Carnaval de um lugar da fantasia, esse lugar onde não existe um centro regulador, onde as pessoas podem dançar, podem trazer sua fantasia. É um lugar que tem muita alma.
Ivany Carneiro: É um caos organizado, é uma loucura que se auto-regula, você se aproxima, você vê de tudo, todas as fatias, todos os tipos de consumo. Você vê do mais miserável, feliz brincando ou feliz catando lata, como você vê também o sofrimento…
Gustavo Barcellos: É essa borda do excesso, essa borda do extraordinário, do extremo.
Ivany Carneiro: Acho que nessa festa cada um experimenta um pouco da sua essência e se desnuda um pouco por conta do excesso.
Gustavo Barcellos: Que só é excesso de uma perspectiva fora do carnaval.
Ivany Carneiro: O Carnaval legitima tudo.
Trecho da apresentação:
“Já é carnaval cidade, acorda pra ver…”
Corpos desnudos, banhados num suor brilhante, dourados, prateados, dançam freneticamente como nos rituais báquicos, corpos em transe consomem-se em agonia: beber, dançar, beijar, cantar, trepar, tudo é muito, o exagero e o excesso levam ao êxtase, à loucura dionisíaca, à comunhão com o deus.
Como um vulcão que desperta, o carnaval avassala a cidade, que em brasas é consumida, num fervilhar onde essência e excesso transbordam irmanamente.
O Carnaval devora, despedaça, engendra, nutre, mata, imortaliza. Legitima o ilegítimo, acolhe a diversidade, aproxima o intangível, permite a loucura, impõe o caos. Consome de todas as fontes. Não tem pátria, raça ou classe social, é polimorfo, politeísta, apolítico, livre.
Ivany Carneiro