Trecho da apresentação:
Um Encontro em torno do tema Alma e Comida me inspirou a uma reflexão acerca da Inanição da Alma e de um imaginário, onde a vida se faz sem detalhes genuínos, sem tempo para o olhar, para ver e refletir o outro e no outro, para ser um tanto dos muitos que nos habitam. E em pensando na Inanição da Alma fui transportada ao imaginário da farinha, elemento alquímico que mata a fome do povo brasileiro.
Casa de Mani ou mandioca se descortina com um imaginário de lendas e mitos, um universo de rara beleza.
Mani, linda e alva indiazinha, com breve e fugaz vida humana, transforma-se na planta rasteira, de raízes fortes, escuras e tortuosas, que abrigam brancura, maciez e pluralidade em sua fécula. Casa de Mani ou mandioca, matriz de todas as farinhas, compõe a mesa e a vida do brasileiro.
O imaginário da mandioca envolve além da plantação, terra úmida e o trabalho na lavoura, a Casa de Farinha, com suas estórias e cantos entoados, agregando e unindo o povo em torno desta poética alquimia, onde separation, solution e calcination se fazem presentes.
Ivany Carneiro
Trecho da discussão:
Gustavo Barcellos: …isto tudo dá uma boa conversa sobre a alma brasileira.
Ricardo Becker: O que me impressionou nas imagens que tu mostraste foi a complexidade e a simplicidade do processo. E fico me perguntando, como se sabe isso? Como se aprende isso, como se ensina isso, quem ensina eles, quem ensinou isso para os índios, como se mantém até hoje?
Cecília Marcondes: A imagem daquela menina que você mostrou, tão criança já lidando com a mandioca, com a farinha, com a própria subsistência, é essa intimidade que perdemos. Essa intimidade com a vida, com os pais, com o dia a dia…
Gustavo Barcellos: Com os processos de realização de alguma coisa…
Áurea Roitman: A família está junta, comungando, conversando ou cantando e todo mundo tem lugar, ninguém sobra. Isto é bonito.