Vida e morte não se separam. São uma coisa só. Vidamorte. A morte é a nossa tão temida certeza da finitude carnal humana. Porém, a morte é libertadora. Liberta-se com morte, não com a morte temida, mas com aquela que dá sentido para o nosso existir. Limpa-se a gaveta e Abre-se espaço.
A vida é feita de recortes para fugir da finitude. Coloca-se tudo em gavetas, coloca-se tudo em palavras na tentativa de explicar o porquê da vida, o como da vida, o como ser na vida, o como existir na vida, o como relacionar-se na vida. Assim, são criadas fórmulas para estar na vida e para suportar a incerteza da própria vida na certeza da morte
A morte assusta e sobre ela não se fala. Colocamo-la fora de qualquer discussão e nós, analistas, pouco estamos preparados para falar sobre a morte, ainda que esteja presente o tempo todo. Acompanhamos as mortes de nossos pacientes todos os dias e de seus medos de morrer. Morre-se.
Nossas clínicas não são feitas de vida e sim de morte. O que se fala em nossas clínicas são histórias que precisam morrer. Morrer para curar a história. A história da pessoa é feita de fantasias, medos, culpas, dores e saudades, que são colocadas em gavetas e ali ficam vivas. A cada momento se abre e se fecha uma e outra.
Mas a gaveta fala do medo da finitude, do término, do final. As imagens da gaveta na vidamorte provocam dor e, ao mesmo tempo, libertam.
Diva Pimentel