Trecho da apresentação:
Quando resgatamos a alma das coisas, a visão racional que confina a ideia de subjetividade às pessoas humanas e divide o mundo em objetos e egos, animação e inanimação, vida e morte, dá lugar a “um modo de experimentar o mundo como um campo psicológico, no qual as pessoas são dadas com os eventos, assim como estes são experiências que nos tocam, movem e chamam”, aponta James Hillman em Re-vendo a psicologia.
Ao propor um olhar imaginativo para as deformidades em relação à comida, um simples exercício de amplificação do vocábulo fome nos coloca frente a importantes constatações: do nutrir para satisfazer as necessidades imediatas ao empanturrar-se ou devorar, a comida não se mostra apenas como fonte de prazer e sobrevivência, mas, metaforicamente, como um recurso para aplacar uma fome interior que nem todo alimento do mundo seria capaz de saciar: a cobiça e a fartura desmedidas, parceiras inseparáveis, imagética e sensorialmente, da penúria, da privação e da exclusão social.
Silvia Graubart
Trecho da discussão:
Hermenegildo Anjos: …é como se a cura para a feiúra da desigualdade social, dos sofrimentos que vemos, seja justamente cuidar da alma do mundo. Porque isso é um reflexo da miséria psicológica individual… Isso é um sofrimento para a alma, porque a alma preza a beleza… e temos coisas extremamente desnutridas em nós.
Gustavo Barcellos: E coisas superalimentadas… Esse paradoxo é individual. A alma é individual e é coletiva. Está dentro e fora… e a psicologia arquetípica tenta fazer novamente essa costura, por meio de uma ideia de anima mundi. Ou seja, novamente juntar aquilo que chamamos de sociologia com a psicologia, via imaginação.
Hermenegildo Anjos: Penso um pouco diferente. Mais do que os psicólogos precisarem ter uma ação social, acho que a política precisa ter uma ação mais psicológica. Carecemos de alma na política, temos políticos que não fazem política com alma.